Governo firma parceria com Instituto Cidades Responsivas para identificar situação de imóveis afetados pelas enchentes em 95 cidades

As reais condições dos domicílios das áreas mais afetadas pelas enchentes começarão a ser identificadas para embasar ações do governo do Estado. O levantamento será feito nos 95 municípios que decretaram estado de calamidade pública e em locais de outras cidades em situação crítica.

A partir de parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano (Sedur), o Instituto Cidades Responsivas desenvolveu uma ferramenta digital para verificar quais imóveis precisam de reparos, e de que tipo, além de identificar os que estão condenados ou deixaram de existir.

O cadastramento de dados depende fundamentalmente da ação de voluntários, que irão enviar a avaliação dos pontos mais próximos às suas residências. As informações serão disponibilizadas em mapas dinâmicos e interativos na plataforma Place, facilitando o direcionamento e a coordenação de futuras ações governamentais.

A iniciativa faz parte do Plano Rio Grande, que atua em três eixos de enfrentamento aos efeitos das enchentes: ações emergenciais, ações de reconstrução e Rio Grande do Sul do futuro.

“Muito já está sendo feito, mas queremos identificar quais foram os reais danos causados pelas enchentes, para que o Estado disponha, o quanto antes, de uma base de dados geoespacial sólida, que proporcione maior clareza sobre o que deve ser priorizado no processo de recuperação pós-desastre meteorológico”, afirma a diretora do Instituto Cidades Responsivas, Luciana Fonseca.

A Sedur forneceu a relação dos locais onde os voluntários irão atuar. A ação ocorrerá nos 95 municípios mais atingidos e em outras cidades que também tiveram imóveis afetados, conforme cruzamento de dados do mapa elaborado pelo Grupo de Gestão e Planejamento de Recursos Hídricos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Gespla) e do Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos (Cnefe), do Instituto Brasileiro e Estatística (IBGE).

Conforme o levantamento realizado, foram identificados 256.460 endereços, e não apenas domicílios, atingidos nos municípios que decretaram estado de calamidade pública. O Instituto Cidades Responsivas disponibilizará abertamente os resultados da situação dos imóveis mapeados no cadastramento.

“O trabalho do instituto é importante para que o Estado consiga visualizar a tipologia de danos em unidades habitacionais causados pelas enchentes. O levantamento serve para avaliar e complementar outras ações que a Sedur vem desenvolvendo e direcionar políticas públicas específicas para cada caso”, completa a arquiteta e diretora de Planejamento Urbano e Metropolitano da Sedur, Tassiele Francescon.

A criação do Cadastro de Imóveis Atingidos Pelas Enchentes de Maio de 2024 segue a lógica de responsividade, ao conectar voluntários dispostos a colaborar com a recuperação dos imóveis que estão em situação de vulnerabilidade por conta das enchentes. Essa abordagem de baixo para cima permite uma adaptação mais rápida e eficaz às necessidades e desafios urbanos.

Status e geolocalização

Os voluntários que se inscreverem para contribuir com a ação indicarão a área em que pretendem atuar ou poderão valer-se da localização fornecida por seus dispositivos eletrônicos para, num raio de 150 metros, visualizar onde estão os imóveis sobre os quais se pretende designar o status.

Eles serão classificados como habitáveis (sem danos estruturais, mas onde houve perdas internas ou que precisa de reparos), atingidos (que sofreram danos estruturais, mas que podem ser recuperados), destruídos e condenados ou devastados (que deixaram de existir).

A localização das residências será disponibilizada em mapas abertos à consulta pública, onde as unidades serão indicadas como pontos com cores correspondentes aos respectivos status. A Sedur terá acesso exclusivo a descrições adicionais sobre os danos sofridos e fotos dos imóveis.

“A geoespacialização permite uma visualização clara e detalhada das áreas afetadas e de suas necessidades, possibilitando uma coordenação mais eficiente e a priorização dos esforços de recuperação”, explica Luciana. Apesar de a formalização da parceria ter ocorrido em junho, um mês antes, logo no início da tragédia, o instituto criou um cadastro de voluntários que hoje conta com 16,5 mil inscritos de todo o Estado.

“Mais de 90% são profissionais ligados à construção civil, o que se deve às atividades que realizamos. Isso é positivo para o trabalho que será feito, mas a ideia é promover o engajamento de toda a população”, acrescenta a diretora do Instituto Cidades Responsivas. Aqueles que se inscreveram anteriormente no formulário de voluntários deverão apenas informar o CPF para participar do cadastramento de imóveis.

“Não temos metas quanto ao número de inscritos. Queremos, obviamente, o máximo possível, para podermos disponibilizar uma base sólida de dados que oriente a Sedur e demais pastas do governo sobre onde e quais ações devem ser realizadas”, conclui Luciana.

Além da mobilização e recrutamento de voluntários, o Instituto Cidades Responsivas busca  a participação de instituições de ensino superior do Estado que dispõem de cursos ligados à construção civil. “As faculdades e universidades serão representantes das regiões, atuando como um hub local na articulação do projeto. Essas instituições que estamos contactando são fundamentais na ação, por serem capazes tanto de orientar os voluntários quanto de fornecer informações tecnicamente mais precisas”, detalha o coordenador de projetos do instituto, Nícolas Zeferino.

Instituto Cidades Responsiva

Núcleo de ensino, pesquisa e difusão de conhecimento com foco em urbanismo contemporâneo, o Instituto Cidades Responsivas é parte do ecossistema do Grupo OSPA, que reúne arquitetos, economistas e cientistas de dados que buscam resolver problemas urbanos por meio do design e da tecnologia. Além de cursos como o MBA Cidades Responsivas, produz indicadores voltados ao monitoramento do desenvolvimento urbano e projetos de urbanismo estratégico para os setores público e privado.