Estudo mostra predomínio de homens, jovens e mais escolarizados entre os imigrantes do RS
Homens e jovens, vindos de países como Haiti, Venezuela e Uruguai, residentes na região metropolitana de Porto Alegre e municípios maiores do interior e com escolaridade acima da média da população são algumas das características majoritárias dos imigrantes do Rio Grande do Sul.
A partir de dados do Sistema de Registro Nacional Migratório (Sismigra), da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) e do Cadastro Único, o Departamento de Economia e Estatística (DEE), vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG), produziu um perfil dos imigrantes do Estado e constatou uma alta significativa nos registros desde 2018. O estudo, divulgado nesta sexta-feira (25/6), mostra ainda que pretos e pardos estão mais presentes entre os imigrantes do Estado na comparação ao total da população gaúcha e os salários mais altos são pagos aos imigrantes brancos e do sexo masculino, em comparação com os demais.
Em números totais, a base de dados do Sismigra indica que entre 2018 e 2020 o RS contou com 29.357 registros de imigrantes, enquanto a Rais apontou em 2019 para 16.987 imigrantes e o Cadastro Único, com dados de janeiro de 2021, mostra 19.007 registros. As informações do Sismigra mostram o aumento relevante na entrada de imigrantes a partir de 2018, ano em que 10.657 pessoas buscaram o registro, número que subiu para 10.931 em 2019 e caiu para 2.860 em 2020, em função da pandemia.
De acordo com a pesquisadora Daiane Menezes, responsável pelo estudo, cada banco de dados aborda um recorte diferente dessa população. “Nenhuma dessas bases tem informação suficiente para cobrir todos os imigrantes que vieram a residir no Estado nos últimos anos, porém a soma de todas elas pode permitir uma ideia aproximada da situação dessas pessoas”, explica.
Países e municípios de residência
Haiti, Venezuela e Uruguai são os três países com a maior participação de imigrantes em qualquer base de dados analisada. No Cadastro Único, que aponta para a população em situação de maior vulnerabilidade, Haiti e Venezuela lideram o ranking das nações de origem (26,8% e 25,6% respectivamente). No Sismigra, o Uruguai é a nação mais destacada (29,3%) seguida do Haiti (26,7%), enquanto na Rais os haitianos também estão à frente (45,3%), com os uruguaios (12,1%) e venezuelanos (7,9%) na sequência.
Entre os municípios que mais receberam imigrantes nos últimos anos, Porto Alegre lidera nas três bases de dados. Canoas, Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Santana do Livramento também têm destaque nos rankings.
Sexo, faixa etária, escolaridade e raça/cor
Homens são maioria (61,1%) dos imigrantes registrados no Sismigra entre 2018 e 2020, contra 38,9% das mulheres nessa base de dados. Na Rais, que destaca as informações sobre emprego formal, os homens eram responsáveis por 67,8% dos registros contra 32,3% das mulheres. No Cadastro Único, que prioriza as mulheres chefe de família em função do Programa Bolsa Família, a proporção se inverte (54,4% mulheres e 45,6% homens). Quanto à idade, a faixa etária entre 25 e 39 anos é a mais significativa nas três bases de dados (41% no Sismigra, 31% no Cadastro Único e 56% na Rais).
No quesito escolaridade, os inscritos no Cadastro Único, que estão aptos a receber algum tipo de benefício de assistência social, têm instrução superior à dos demais. A faixa de imigrantes com Ensino Médio completo nessa base de dados é de 27,3% contra 11,3% do total. Entre os com Ensino Superior ou mais o percentual também está muito acima do restante (9,6% contra 2,6%).
Entre os integrantes do mercado formal de trabalho, os imigrantes apresentam uma escolaridade pouco menor, com 41,7% dos trabalhadores com Ensino Médio completo contra 44,8% da população em geral. “O acesso ao mercado formal de trabalho é mais difícil para os imigrantes que têm maior escolaridade, o que pode ser decorrência de problemas de validação de diploma, por exemplo”, ressalta Daiane.
Na categoria de raça/cor, os imigrantes brancos autodeclarados no Cadastro Único somavam 54,6% do total, enquanto na população não imigrante da mesma fonte o percentual era de 77,2%. O percentual de pretos e pardos imigrantes, somados, chega a 44,5%, enquanto no total era de 21,8%. Na Rais, pretos e pardos imigrantes representavam 50,1%, enquanto brancos eram 35,1%.
Renda e ocupação
Quanto à renda, 46,7% dos imigrantes inscritos no Cadastro Único recebiam até R$ 89 por mês, o que os inclui na faixa da extrema pobreza, enquanto no grupo de não imigrantes o percentual é de 37,9%. Entre as principais funções destes imigrantes estão os trabalhadores por conta própria (48,2%) e os empregados com carteira de trabalho (39,8%). No Sismigra, que tem outro recorte social, as profissões mais declaradas foram a de Estudante (14,2%) e Vendedor (7,5%). Segundo a Rais, os imigrantes recebem, em sua maioria, entre um e um e meio salário mínimo (28,9%) e de um a dois salários mínimos (33%).
O trabalho do DEE/SPGG também assinala as desigualdades registradas entre os imigrantes. As pessoas de cor preta e mulheres têm as ocupações menos qualificadas. Os imigrantes brancos predominam entre as ocupações com remuneração acima de três salários mínimos.
“As desigualdades presentes na nossa sociedade também existem em relação aos imigrantes, visto que os dados mostram brancos com salários maiores do que pretos e pardos e homens com remunerações maiores na comparação com as mulheres”, conclui Daiane.