Custos e preços preocupam produtores de arroz para a colheita

O produtor de arroz, especialmente no Rio Grande do Sul, não terá lembranças tão positivas do ano de 2017. Os altos custos de produção na lavoura e os baixos preços praticados no mercado do grão, aliados à guerra fiscal e às importações de países do Mercosul, trouxeram dificuldades aos arrozeiros. A expectativa para o ano de 2018 é de que alguns destes entraves continuem assolando os orizicultores gaúchos, responsáveis por 70% da produção nacional.
Conforme o presidente da Federação das Associações dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Henrique Dornelles, como já era esperado pela entidade, o ano comercial foi extremamente duro para o produtor. “A safra iniciou com uma expectativa de redução de custos, mas já esperávamos que isto não ocorreria, especialmente pela previsão da aplicação da bandeira vermelha por todas as concessionárias de energia elétrica, infelizmente confirmada, ainda agravada pela região atendida pela CEEE, onde os produtores amargaram aumento de 30% na tarifa”, salienta.
Além disso, de acordo com o dirigente, os combustíveis seguiram em uma crescente, e o arroz é extremamente dependente desse insumo, tanto pelo preparo do solo, colheita e irrigação, quanto pelo aumento do frete pelo volume retirado da lavoura. “E quando há uma variação deste insumo, isto repercute significativamente nos custos de produção. A recessão contribuiu para que os preços não tivessem uma valorização na entressafra e isto coloca o setor em alerta, na medida em que preços atuais não remuneram em plena entressafra”, destaca.
Para o presidente da Federarroz, ainda é cedo para  uma previsão de safra, pois recentemente iniciou-se o período reprodutivo da cultura, especialmente as lavouras plantadas no cedo, de área significativamente baixa. “Estas sim possuem garantia de um bom potencial produtivo. As demais lavouras, que são a grande maioria, terão uma dependência maior do clima e expectativa não tão positiva. Podemos perceber que produtores que plantaram no cedo também aplicaram e investiram em tecnologia, o que pode assegurar a produtividade, mas que não há qualquer garantia de safra volumosa, justamente pela significativa área restante, com dependência do clima e forte influência da descapitalização do setor, característica desse ano”, ressalta.
Um ponto observado por Dornelles que deverá reduzir o potencial da lavoura gaúcha é a entrada de outras cultivares que não a Irga 424 RI, desenvolvida pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). Lembra que, devido às dificuldades de comercialização, os produtores optaram por plantar parte da lavoura com outras variedades, que possuem um potencial produtivo inferior à cultivar do instituto gaúcho.
Sobre o clima, Dornelles avalia que, no atual momento, vem sendo bastante positivo. “O que foi ruim no início do plantio melhorou a partir de novembro, apesar da falta de umidade para nascimento de várias lavouras. Houve ocorrência de um veranico, obrigando produtores à irrigação antecipada, denominado banho, que onera custos e dificulta o controle de invasoras”, observa.
No mercado, o dirigente acredita que exista espaço para uma valorização do grão no início do ano, como sempre ocorreu depois do dia 15 de janeiro em relação ao “arroz velho”. O já consolidado atraso da entrada da nova colheita, 20 dias em relação ao histórico,  poderá  consumir parte considerável dos estoques de passagem. Ressalta que as exportações voltaram a ter importante dinamismo nesta passagem de ano, o que atenua a questão da balança comercial. As próximas parcelas alongadas do custeio possuem pouca significância no mercado, pois além de muitos produtores terem antecipado a posição, estas , representando menos de 20% da demanda mensal. “Além disso, temos a possibilidade da liberação automática de recursos para a utilização de programas de apoio à comercialização e escoamento do produto que deverão contribuir na medida em que eventualmente os preços atinjam o patamar de R$ 36,00, que é o novo preço mínimo para arroz de 58 de inteiros”, enfatiza.
O presidente da Federarroz reforça que a entidade segue monitorando as ações que foram solicitadas em relação à fiscalização do produto que é vendido no atacado e no varejo. Explica que no início de 2018 deverá ser implantada uma operação padrão nas fronteiras, especialmente no Paraguai, com o objetivo de fiscalizar arroz que contenha resíduos de agroquímicos acima do Limite Máximo de Resíduos (LMR) e proibidos no Brasil. “Uma questão que deverá marcar o próximo ano serão as ações, judiciais e administrativas,  das Associações de Arrozeiros e da própria Federarroz em relação à cobrança da efetividade das fiscalizações. O Brasil possui suas dificuldades, mas não necessariamente precisamos aceitá-las, já que não só o consumidor está sendo lesado, mas também os produtores e a economia regional, especialmente do Rio Grande do Sul”, completa.
Além disso, a diretoria da entidade está prevendo uma reunião com produtores com objetivo de colher informações, depoimentos e mesmo apoio para ações junto ao Ministério Público englobando outros elos da cadeia produtiva. “Será um ano de atritos e bastante nervoso. O setor produtivo não possui nada a perder, já que está sem renda, expectativa e sem diálogo com os demais elos da cadeia produtiva e mesmo entidades governamentais, que escondem problemas de competitividade na agricultura para privilegiar contratos de outros ramos econômicos”, enfatiza Dornelles.
Estes temas estarão em pauta durante a 28ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz, organizada pela Federarroz, que ocorre de 21 a 23 de fevereiro de 2018 na Estação Experimental do Arroz, do Irga, em Cachoeirinha (RS). Mais informações sobre o evento podem ser obtidas em www.colheitadoarroz.com.br.