Os ovos de Páscoa e os chocolates sofreram uma redução no tamanho, não no preço
A pouco dias da Páscoa, está difícil encontrar nas prateleiras de lojas e supermercados ovos e barras de chocolates que não tenham diminuído de peso este ano. Há reduções que chegam à casa dos 30%. Apesar de a prática, na maioria das vezes, não ser ilegal, trata-se de uma maneira de aumentar o preço sem que o consumidor se dê conta.
Pela lei, a diminuição da quantidade de um produto deve constar na embalagem de maneira clara e ostensiva por, no mínimo, três meses. Além da redução em valores absolutos e percentuais, a quantidade ou peso anterior também precisa ser informada.
“A marca tem que dar uma explicação sobre a redução aos consumidores, para que eles possam fazer uma escolha de compra consciente”, afirma a Coordenadora de Atendimento do Procon, Soraia Panella.
Denúncias
A diminuição sem alerta é prática ilegal e passível de multa. O consumidor precisa estar muito atento para identificar quando isso acontece. Na dúvida, a orientação é comunicar ao Procon para que faça uma averiguação. No ano passado, o Procon de São Paulo confirmou uma denúncia sobre ovos de páscoa e autuou a empresa por não ter avisado sobre a redução na embalagem.
“Este ano, ainda não tivemos denúncias sobre ovos e barras de chocolate. O que queremos é a transparência da informação”, disse o supervisor do Procon, Bruno Teleze Stroebel.
De acordo com o coordenador do MBA em Marketing Estratégico da ESPM-Rio, Marcelo Boschi, essa é uma estratégia usada pelas marcas para reduzir custo e aumentar a margem de lucro. Como a maior parte dos consumidores não dá atenção às informações da embalagem, eles acabam sendo lesados sem nem se dar conta, diz Boschi:
“Compras habituais são rápidas e automáticas. De forma geral, o consumidor não verifica mais que duas informações, o preço e a validade”, ressalta.
Quem já foi às compras diz ter constatado que, apesar da redução, os preços se mantiveram ou subiram em comparação ao ano passado.
“Observo o peso líquido nas embalagens e tenho reparado que, a cada ano, reduzem mais e mais os produtos, mas os preços não caem na mesma proporção. No fim, pagamos mais ou o mesmo para levar bem menos”, lamenta a funcionária pública Roberta Azevedo, que adiou suas compras enquanto não encontra uma alternativa.
Uma das maiores reduções encontradas foi a dos ovos de chocolate branco e amargo da marca Arcor, que encolheram em 32%. Mesmo avisando na embalagem sobre a alteração, a marca afirmou, em um primeiro contato com a “Defesa do Consumidor”, que não havia reduzido o peso de produtos. Num segundo momento, a Arcor admitiu a redução, mas garantiu que o preço caiu proporcionalmente. Segundo a empresa, a alteração foi feita para se adequar aos padrões do mercado.
Ler a embalagem
Já as barras de Alpino Black Top, da Nestlé, tiveram sua gramatura reduzida em 20%. Entre os ovos de chocolate da marca que encolheram de tamanho, o Prestígio diminuiu em 19%. A Garoto reduziu o ovo Serenata de Amor em 14%, enquanto os tabletes de chocolate ao leite sofreram uma diminuição de 20%. As caixas de bombons de ambas as marcas vêm diminuindo progressivamente em quantidade, queixa-se o corretor de imóveis Rodrigo Mello:
“A caixa de bombom já teve 500g, passou para 400g, e agora, para 300g.”
A Nestlé e a Garoto, marcas do mesmo grupo empresarial, também disseram que as reduções acompanham as tendências do mercado e do comportamento do consumidor.
Os ovos Diamante Negro Laka e Laka, ambos da Lacta, “emagreceram” 6% e 7%, respectivamente. Já a barra de chocolate Diamante Negro perdeu 16%. A Mondelez Brasil, responsável pela marca, explicou que as mudanças nos ovos de Páscoa deste ano se devem a alteração do “mix interno” dos produtos, que agora vêm com miniovos.
O economista Luís Carlos Ewald orienta os consumidores a redobrarem a atenção com os rótulos, a fim de fazer a melhor escolha. E se o objetivo é economizar, ele recomenda adiar as compras:
“Ler as informações nas embalagens é fundamental para saber se há mudanças e poder comparar os itens. Mas, para economizar mesmo, é só deixar as compras para depois da Páscoa.”