Redes de supermercados contribuem para pobreza no campo, diz estudo
As grandes redes de supermercados também são responsáveis pela pobreza e pelas condições precárias de trabalho na cadeia de fornecedores de alimentos, onde estão trabalhadores rurais e pequenos e médios agricultores. É o que revela o relatório Hora de Mudar – Desigualdade e sofrimento humano nas cadeias de fornecimento dos supermercados, lançadonesta quinta-feira (21) pela organização não governamental Oxfam.
De acordo com o relatório, a concentração do mercado global de alimentos acaba “espremendo” as cadeias de fornecimento pelo menor valor dos seus produtos, restando aos trabalhadores e produtores uma renda insuficiente para uma vida digna, trabalho análogo à escravidão e perda de suas terras. Enquanto os supermercados ficam com uma parcela cada vez maior do que é gasto em suas lojas, em alguns casos, cerca de 50%, a parcela que fica com trabalhadores e produtores rurais pode ser menos de 5%.
“O resultado é o sofrimento humano generalizado entre mulheres e homens que produzem alimentos para supermercados em todo o mundo.
O Brasil foi um dos países incluídos no levantamento feito pela Oxfam. Segundo a organização, atualmente, um em cada quatro copos de suco de laranja consumidos no mundo vem do Brasil. O preço do produto aumentou mais de 50% nos supermercados americanos e europeus desde a década de 1990. No entanto, o valor pago a pequenos produtores e trabalhadores rurais no Brasil chega a apenas 4% do valor de venda final.
Para alguns produtos, como o chá indiano ou a vagem queniana, a renda média dos produtores é menos da metade do que seria considerado ideal para assegurar uma vida digna. No caso do Brasil, a renda de trabalhadores e pequenos agricultores que fornecem laranja é de 61% e 58% do que seria necessário para um padrão de vida decente.
Enquanto isso, as oito maiores cadeias de supermercados de capital aberto geraram quase US$ 1 trilhão em vendas, US$ 22 bilhões em lucros e US$ 15 bilhões em dividendos a seus acionistas em 2016. Apenas 10% do que os três maiores supermercados dos Estados Unidos pagaram a seus acionistas em 2016 seria o suficiente para pagar um salário digno a 600 mil trabalhadores que atuam no processamento de camarão na Tailândia.