Chegada do 5G deve expandir o uso da Internet das Coisas
Faz tempo que o homem sonha com um mundo altamente tecnológico. Clássico dos anos 1980, o filme De Volta para o Futuro 2 trazia uma série de inovações que já se concretizaram nos dias de hoje: as videochamadas, TVs de tela plana, uso da biometria, além de serviços automatizados e acionados pela voz. Antes mesmo disso, na década de 1960, outro clássico também se passava no futuro: o desenho Os Jetsons. A animação também acertou em muitas previsões: robôs que ajudam a limpar a casa e relógios de pulso inteligentes (smartwatches) já são uma realidade nos dias de hoje.
Conectar o mundo físico ao tecnológico – o offline ao online – para facilitar o nosso dia a dia é o objetivo da Internet das Coisas (IdC) – também tratada pela sigla em inglês IoT (Internet of Things). A tecnologia permite que objetos se comuniquem graças à internet.
A expectativa é que a Internet das Coisas mude o nosso dia a dia. “Teremos a criação de um ecossistema digital onde tudo se comunica e a gente vai ganhar mais tempo”, diz o secretário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações, José Afonso Cosmo Júnior. “Vai chegar um momento em que minha roupa vai avisar à lavanderia que já está na hora de lavar”. A chegada da internet 5G ao Brasil deve consolidar esse processo.
Casa inteligente
Essa realidade já vem chegando de mansinho ao Brasil. Em Curitiba, o engenheiro William Padilha, por exemplo, tem o que se chama de smart home (casa inteligente, em tradução livre). Ele utiliza o Google Nest, um aparelho que comprou quando morava na Alemanha e que, pareado com seu celular, ajuda a fazer ligações, acessar notícias, checar lembretes, ouvir música e até conferir a previsão do tempo. “Ele já traz a música de que eu gosto e as notícias que quero ver. Tudo após um simples good morning, Google [Bom dia, Google]”, revela.
E não para por aí. Padilha colocou outro aparelho na casa dos pais, que ajuda na rotina com os remédios, por exemplo. “Eu consigo lembrá-los da minha própria casa sem ter a necessidade de estar com eles lá ou ter de fazer uma ligação”, diz.
O editor de imagens Roberto Maia usa o smart home Alexa para controlar vários equipamentos na sua casa: luzes, ar-condicionado e televisão. A casa é toda automatizada, e até o filtro da piscina é controlado pelo celular. Para ele, essa automação traz segurança: “Mesmo viajando, eu consigo ligar as luzes de casa pelo celular.” A tecnologia também ajuda com os cinco cachorros de estimação quando está de férias: pela câmera, ele mata a saudade dos pets.
Da cidade ao campo
Outro exemplo de como a Internet das Coisas pode facilitar o dia a dia é o smartwatch. Conectado ao celular, ele recebe mensagens e ligações. Mas pode ir muito além: com aplicativos, pode medir o batimento cardíaco e o nível de atividade física.
É exatamente com esse propósito que o triatleta brasiliense Calebe Nunes da Silva utiliza seu relógio quando pratica natação, ciclismo e corrida. “É bom para saber como estou evoluindo em cada modalidade. Automaticamente, ele já passa tudo para o meu treinador saber onde estou tendo dificuldade”, diz o triatleta, que comenta que modelos mais avançados medem a oxigenação sanguínea e até já salvaram a vida de pessoas em início de infarto.
A Internet das Coisas também está presente na medicina, com monitoramento de estoques de sangue e da temperatura de armazenamento de medicamentos e vacinas. Caso os sensores identifiquem falhas na conservação, eles acionam as equipes para que tomem providências.
Na indústria, um exemplo é a utilização de óculos de realidade aumentada. No campo, a IdC auxilia no aumento da produtividade, redução de custos e diminuição de perdas. Rebanhos monitorados por chips que enviam informações sobre a saúde e o comportamento do animal, além de sua localização pelo GPS.
Na agricultura, é possível avaliar a umidade e as condições climáticas para programar a irrigação automatizada. Além disso, drones auxiliam, por exemplo, na verificação da existência de pragas.
Facilitação
O governo federal vem tomando algumas medidas para incentivar a expansão da Internet das Coisas no Brasil. Em 2019, foi sancionado o Plano Nacional de Internet das Coisas e criada a Câmara IoT, um grupo de trabalho para acompanhar a implantação desse plano.
No fim do ano passado, foi sancionada a Lei 14.108. Por meio dela, itens que fazem parte de sistemas de comunicação máquina a máquina tiveram isenção de alguns tributos. “Com essa desoneração, a gente abre um grande mercado e abre possibilidade para que esses aplicativos venham para o nosso país”, afirma o secretário de Telecomunicações.
Segundo ele, de 2019 para 2020, o mercado de IoT cresceu 9%. Nos dois primeiros meses após a desoneração, o crescimento foi de 6%. “Isso no meio de uma pandemia e com todas as limitações”, destaca Cosmo Júnior.
Segurança
Essas facilidades trazidas pela IdC podem esconder algumas armadilhas. De acordo com o especialista em cibersegurança Lucas Galvão, nem todos os fabricantes oferecem garantia em relação à proteção de informações pessoais que circulam nos dispositivos. “Um simples relógio inteligente hoje pode saber aonde você foi, qual é a sua média de batimentos – inclusive seu eletrocardiograma –, ouvir suas conversas e muito mais.”
Segundo ele, os riscos existem em todas as partes, entretanto, hoje o usuário final pode fazer uma análise antes de adquirir um dispositivo IdC, verificando que tipos de informações serão processadas e utilizadas. Para Galvão, fabricantes, órgãos reguladores e profissionais de segurança da informação possuem um papel importante a ser desempenhado na garantia da segurança cibernética desses dispositivos.
Em setembro de 2020, entrou em vigor no país a Lei Geral de Proteção de Dados. O texto define direitos de indivíduos em relação às suas informações pessoais e regras para quem coleta e trata esses registros.
fonte Agência Brasil