Testes positivos de covid-19 caem após pico da Ômicron no Brasil

A proporção de testes positivos para covid-19 em meio ao número total de exames realizados está em queda contínua no Brasil. Nas primeiras semanas de março, a chamada positividade chegou a 9,9%, número que foi de 60% durante o pico da variante Ômicron nas cidades brasileiras, entre janeiro e fevereiro.

O levantamento foi realizado pelo Instituto Todos pela Saúde (ITpS) e analisou 528,4 mil diagnósticos moleculares desde a semana do Natal. Tendência similar é observada em testes rápidos de farmácia, cuja positividade para covid diminuiu mais de 64% em fevereiro, segundo a Abrafarma.

Com a covid em queda no País, um ponto de preocupação neste momento são as crianças. Boletim divulgado na quinta-feira, 17, pela Fiocruz aponta que a incidência de casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG), que abarca outras doenças além da covid, apresenta “ascensão significativa” em crianças.

A taxa de testes positivos para o vírus sincicial respiratório (VSR), mais frequente em faixas etárias mais jovens, subiu de menos de 1%, no início do ano, para 5% na última semana, indica o ITPS.

Conforme o levantamento do Instituto Todos pela Saúde, que foi realizado em parceria com os laboratórios particulares Dasa, DB Molecular e Hlagyn, a taxa de positividade para covid, que chegou a 60% após a chegada da variante Ômicron, foi de 9,9% nas primeiras semanas de março, mesmo após o carnaval.

“Reflete muito um padrão que a gente observou em muitos países: a Ômicron gerou uma subida vertiginosa, seguida de uma queda”, avalia o virologista Anderson Brito, que destaca que a taxa de positividade caiu em todas as faixas etárias.

Paralelamente, o número de testes rápidos feitos no varejo farmacêutico que deram resultado positivo para covid caiu 64,52% em fevereiro em relação a janeiro. As confirmações foram de 984,6 mil para 349,3 mil. Os dados da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) também indicam manutenção na queda de positivações nos primeiros dias de março.

Brito explica que, além de afetar no número de casos registrados, a desaceleração da pandemia costuma diminuir a procura por testes e também a porcentagem de diagnósticos positivos. Resta saber, explica o virologista, se o cenário vai se manter dessa forma ou se vai haver no Brasil interrupção na tendência de queda, como tem sido observado em países da Europa, como Reino Unido e Alemanha, e em países asiáticos – recentemente, a China decretou lockdown por conta da alta de casos.

“A BA.2 (sublinhagem da Ômicron) hoje está em vias de se tornar a variante predominante por lá, esse é um dos fatores (que gerou aumento de casos)”, avalia Brito. “Isso é extremamente importante, mas não é tudo. A covid nos últimos anos tem mostrado que não é um fenômeno isolado, mas multifatorial.”

Segundo ele, quatro seriam os elementos que podem explicar a alta de casos: o vírus em si, a adoção ou não de medidas não farmacológicas, a cobertura vacinal e o decaimento natural das imunidades – o que reforçaria a necessidade de doses de reforço.

“Somado a isso tudo, ainda tem um quinto elemento que pode favorecer o vírus, que é o fato de os países europeus estarem em um período de inverno. As pessoas tendem a ficar agrupadas e mais em lugares fechados, o que aumenta a contaminação, principalmente quando não há uso de máscaras”, acrescenta.

No Brasil, o virologista aponta que a queda da positividade é um “ótimo sinal”. “Os dados têm mostrado que a positividade tem caído para a SARS-CoV-2. A influenza A, que é o vírus da gripe, hoje em dia está em baixa circulação. A positividade dos testes que estava mais de 40% no início do ano, agora caiu”, explica. Ainda assim, reforça a importância de acompanhar a situação ao longo das próximas semanas e de seguir com medidas como uso de máscaras em ambientes fechados.

Crianças

Como ponto de atenção, Brito destaca que o vírus sincicial respiratório, cuja taxa de testes positivos estava abaixo de 1% no início do ano, subiu para 5% na última semana. “Pode ser reflexo até da volta às aulas, é uma possibilidade. O que a gente observa agora é uma subida, e que o vírus se dá principalmente em crianças. Mais de 77% dos casos em crianças diagnosticadas estão associadas ao VSR. Nunca tínhamos observado uma proporção tão grande”, aponta.

Nesse contexto, ele destaca que como esse é um vírus sazonal, que tende a afetar crianças e idosos em maior proporção, seria importante se ter uma atenção maior não só em relação a ele, como também na vacinação da covid-19. O avanço da cobertura vacinal nessa faixa, explica o virologista, teria o potencial de evitar o crescimento de hospitalizações por covid e, com isso, aliviar a pressão nos sistemas de saúde.

Boletim do InfoGripe divulgado pela Fiocruz na quinta-feira passada (17) sinaliza que, apesar da manutenção do cenário de queda na população em geral, a incidência de casos de síndrome respiratória aguda grave em crianças apresenta “ascensão significativa em diversos Estados ao longo do mês de fevereiro, período de retomada do ano letivo”.

Dados laboratoriais preliminares sugerem um possível aumento nos casos associados ao VSR na faixa etária de 0 a 4 anos e interrupção de queda nos casos associados ao SARS-CoV-2 na faixa de 5 a 11 anos. Informações reunidas pelo consórcio de veículos de imprensa apontam que 53,4% deste último público foi vacinado com a 1ª dose. Com esquema inicial completo, ainda são menos de 6%.

Coordenador do InfoGripe, Marcelo Gomes destaca que o Brasil está hoje com um número de novos casos semanais de síndrome respiratória aguda grave similar ao patamar observado no final de outubro do ano passado, que até então havia sido o menor volume registrado. “Por outro lado, a gente está falando de um universo de cerca de 5 mil novos casos semanais (de SRAG) em todo o País”, explica.

“Com uma diferença importante também em relação a outubro do ano passado, que é o fato de as crianças, principalmente as pequenas, de 0 a 4 anos, que no final de outubro representavam cerca de 1 mil, 1,1 mil casos semanas, agora representarem um universo de aproximadamente 2 mil novos casos semanais dentro desse total de cerca de 5 mil novos casos por semana”, explica.

O pesquisador relembra que esses casos não apontam somente para covid. “A gente vê até muito mais agora a volta do vírus sincicial respiratório, causando muitas internações nas nossas crianças”, indica o pesquisador. Ainda assim, acrescenta que a covid segue sendo o principal vírus associado a internações por problemas respiratórios, o que reforça a necessidade de usar máscaras – que também ajudam a diminuir a transmissibilidade do VSR – e a avançar na cobertura vacinal do público infantil.

Idosos

Além das crianças, os idosos são outro ponto de atenção neste momento da pandemia. Pesquisa realizada pelo Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (SindHosp) com 72 hospitais privados do Estado aponta que em 76% das instituições analisadas predominam pacientes internados em leitos de UTI destinados à covid na faixa etária entre 60 a 79 anos. Em 12%, a predominância é de pacientes acima de 80 anos.

Segundo o sindicato, a prevalência de idosos nas UTIs para pacientes com sintomas de covid justifica a proposta do governo de iniciar a aplicação da 4ª dose da vacina nesse público. Na quarta-feira, 16, a gestão Doria anunciou que iniciará a aplicação do chamado reforço adicional na população com mais de 80 anos na próxima semana. Como requisito, necessitam ter tomado a 3ª dose há um período de ao menos quatro meses.

Não foi divulgado cronograma para demais faixas, como o público com mais de 70, mas o governo já sinalizou que pretende diminuir as faixas etárias atendidas, até chegar ao público com 60 anos. Até o momento, o Ministério da Saúde recomenda a aplicação de 4ª dose apenas em pessoas imunocomprometidas, mas em outros Estados, como no Mato Grosso do Sul, já foi adotada a aplicação em outros públicos, como em idosos e profissionais de saúde.

 

 

Fonte Gaúcha/ZH/Estadão