Com 987 mortes por dengue em 2022, Brasil bate recorde em letalidade anual
O Brasil chegou a 987 mortes em razão da dengue este ano, segundo boletim divulgado na segunda-feira pelo Ministério da Saúde. O número marca um recorde anual de óbitos pela doença, superando o maior patamar anterior, de 986 mortes, registrado em 2015.
Desde a década de 1980, quando a dengue ressurgiu no país, não eram registradas tantas mortes em um único ano. Como o levantamento considerou os casos registrados até o último dia 17 e ainda há 100 óbitos em investigação, o Brasil ainda pode fechar o ano de 2022 com mais de mil mortes causadas pela dengue.
O total já supera em mais de 400% o volume de todo o ano de 2021, quando 244 óbitos foram confirmados pela Pasta. O estado de São Paulo se mantém à frente em número de mortes, com 278, seguido por Goiás, com 154.
Em uma evidência de que o mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença, vem se adaptando aos climas mais frios, os estados da região Sul aparecem na sequência, completando a lista dos cinco com maior número de mortes: Paraná (108), Santa Catarina (88) e Rio Grande do Sul (66).
Já o número de casos prováveis de dengue chegou a 1.414.797, com taxa de incidência de 663,2 a cada 100 mil habitantes – um aumento de 163,8% em relação ao mesmo período de 2021.
A região Centro-Oeste teve a maior incidência até agora, com 2.028,4 casos a cada 100 mil habitantes. O município brasileiro com mais registros é Araraquara, no interior de São Paulo, com 8.716,1 casos a cada 100 mil moradores. Já em número absoluto, Brasília lidera com 68.654 confirmações.
“Faltou ação em prevenção”
Para o infectologista Alexandre Naime Barbosa, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), o cenário indica que houve descuido com a prevenção da doença.
“Com certeza é o pior ano da dengue em todos os aspectos e isso não aconteceu por acaso. Faltou ação do governo federal em prevenção”, disse.
O número baixo de casos no ano passado, segundo ele, pode ter levado a população a relaxar nos cuidados básicos, como a eliminação de criadouros do Aedes aegypti, o mosquito transmissor.
“Dengue é uma luta contínua, é preciso mostrar que a doença. Em abril deste ano, nós da Sociedade Brasileira de Infectologia fizemos o primeiro alerta para o grande número de óbitos e a necessidade de retomar as campanhas. Não foi por falta de aviso.”
Segundo ele, a condição climática também contribuiu para o aumento de transmissão. “Estamos vivendo um ano mais chuvoso por conta do fenômeno La Nina e o mosquito Aedes aegypti precisa de água e calor para se reproduzir. Outra questão é que, por conta do aquecimento global, o mosquito vai expandindo suas fronteiras reproduzindo onde antes não aparecia. Não é à toa que temos um grande número de casos e de óbitos nos estados da Região Sul”, explica.
Mais chikungunya
O infectologista chamou a atenção para o aumento de casos e mortes em razão da febre chikungunya, doença também transmitida pelo mosquito.
“Isso indica que o Aedes ficou livre e solto para se reproduzir por falta de uma ação mais efetiva de controle.” Até 17 de dezembro, foram confirmados 93 óbitos pela chikungunya no Brasil, quase sete vezes mais que as 14 mortes de todo ano de 2021. O país já registrou 172.082 casos prováveis, 78% a mais do que no mesmo período de 2021.
O Ministério da Saúde informou que monitora de forma constante a situação epidemiológica da dengue e das demais arboviroses no Brasil. A pasta destacou que investe em ações de combate ao mosquito de forma permanente, como a promoção de campanhas ajudando a orientar a população sobre a prevenção da doença, distribuição de inseticidas e larvicidas aos estados e municípios, bem como a realização periódica de reuniões com gestores para avaliação do cenário nacional e estratégias de combate.
Fonte Correio do Povo