Noz Pecã: perdas na produção chegam a 80% no Estado

Reunião da Câmara Setorial da Noz-Pecã fez uma avaliação das perdas na cultura em função das enchentes e das várias semanas com chuvas extremamente excessivas no Rio Grande do Sul.

De acordo com o presidente do Instituto Brasileiro de Pecanicultura (IBPecan), Eduardo Basso, as perdas na cultura em todo o Rio Grande do Sul chegam a 80%. Entre as regiões com maiores prejuízos estão a de Anta Gorda, com perdas de 90 a 95% e a de Cachoeira do Sul, com perdas de 80% em relação ao ano passado. A região de Carazinho foi menos afetada pelas chuvas. O levantamento foi feito a partir de questionários enviados aos produtores a partir de três eixos: perdas nos investimentos, no capital de trabalho e na indústria.

“Nós devemos colher entre 1.000 e 1.500 toneladas de noz-pecã neste ano em relação à safra passada. E as perdas em valores chegam a R$ 112 milhões”, afirma Eduardo Basso.

De acordo com o engenheiro agrônomo Júlio Medeiros, do IBPecan, a preocupação é também com a qualidade do produto colhido. “Nós tivemos pequenas janelas de tempo bom para fazer esta colheita e não foi suficiente”. Segundo ele, têm perdas na produção, na qualidade, nos equipamentos, tem assoreamento de açudes, erosão laminar e por sulcos, plantas danificadas ou arrancadas. “Os danos são muito grandes, o ano está sendo terrível e o produtor fica se perguntando o que fazer”, afirma.

Para o produtor Demian Segatto da Costa, este ano já seria de uma colheita menor em função da alternância de anos muito bons e outros nem tanto. “E a chuva intensa afetou a todos, tanto agricultores familiares quanto os mais tecnificados”, afirma. Mas ele lembra que a expectativa é de que o próximo ano seja de uma boa safra, com boa produtividade, e que, juntos, os produtores vão encontrar soluções para este momento tão difícil.

O extensionista da Emater, Antônio Borba, informou que o levantamento das perdas ainda está sendo feito, mas que já se pode afirmar que os municípios que representam 45% da área cultivada com noz-pecã foram afetados pelas chuvas. “As principais regiões produtoras informaram perdas”, afirma Borba.

Ernestino Guarino, coordenador do grupo de trabalho da Embrapa Clima Temperado que vem se reunindo para buscar propostas para a agricultura gaúcha, informou que o levantamento das perdas com a cultura está sendo feito em três etapas e cujo final prevê a elaboração de propostas de ações para auxiliar no processo de recuperação da agricultura no Rio Grande do Sul. O grupo conta com a participação de sete unidades da Embrapa.

De acordo com Edson Ortiz, diretor da Divinut, uma das preocupações da indústria é com a carência de matéria prima e com a infraestrutura das estradas. “Nós não estamos conseguindo chegar nas propriedades para buscar o produto”, afirma.

As entidades financeiras também participaram da reunião. O Banco do Brasil apresentou a Portaria do Ministério da Fazenda nº 835, de 23 de maio, que oferece subvenção econômica sob forma de desconto nos financiamentos de crédito rural através do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp). Os recursos são destinados para os produtores dos municípios com decreto de emergência e calamidade pública reconhecidos pelo governo federal nos meses de abril e maio deste ano.

Além disso, está em vigor a Medida do Conselho Monetário Nacional nº 5.132, de 10/05/2024, que prorroga os vencimentos de maio, junho e julho de operações de crédito rural para 15 de agosto de 2024, para municípios do estado do Rio Grande do Sul atingidos por enchentes, alagamentos, chuvas intensas, enxurradas, vendaval, deslizamentos ou inundações.

Os agentes financeiros presentes informaram ainda que, conforme previsto no Manual de Crédito Rural, os produtores que tiveram perdas nas suas produções podem solicitar prorrogação de custeios ou investimentos mesmo em municípios que não tiveram publicado decreto de calamidade ou emergência. Além disso, solicitaram via Federação Brasileira de Bancos (Febraban) que a Resolução nº 5.123, válida no Rio Grande do Sul apenas para as culturas de soja, milho e bovinocultura leiteira, seja ampliada para todas as culturas e que o prazo para adesão seja ampliado. Para os produtores presentes, somente a prorrogação não seria suficiente diante os prejuízos registrados e esperam do governo um rebate ou anistia.

Ao final da reunião, os participantes aprovaram as seguintes proposições a serem encaminhadas aos governos federal e estadual: solicitação de prorrogação a longo prazo dos financiamentos, novos recursos para o setor, inclusão da noz-pecã nas culturas com direito ao seguro agrícola, melhorias nas estradas e redução de tributos estaduais e federais.

Participaram da reunião: IBPecan, Emater, Embrapa, IBGE, Sicredi, BRDE, Banco do Brasil, Banrisul, Receita Estadual, Famurs, produtores, indústrias e viveiristas.