Confiança nas emissoras da cidade é um diferencial em meio ao cenário eleitoral acirrado, apontam estudos

Democracias ao redor do mundo vivem períodos de intensa disputa política, com polarização entre blocos ideológicos e o uso frequente de mídias sociais e canais digitais para propagar informações de todos os tipos, sejam elas verdadeiras, meias-verdades ou falsas. Nesse ambiente, no qual o Brasil também está inserido, os veículos de comunicação desempenham um papel fundamental para ajudar a população a identificar o que é confiável, especialmente aqueles que estão mais próximos de seu público. Os ouvintes percebem isso, confiando mais em veículos locais do que em outras plataformas. No entanto, é preciso cuidar desse cenário, alerta a NAB (National Association of Broadcasters, dos EUA) em um webinar realizado recentemente.

De acordo com o que foi divulgado pela mídia especializada, à medida que as emissoras de rádio e TV atravessam os últimos meses de uma intensa temporada eleitoral, a proximidade com o público local se mostra uma vantagem significativa. Pesquisas recentes indicam que os norte-americanos confiam mais nas emissoras locais do que nos veículos nacionais. Contudo, executivos de mídia ressaltam que essa diferença vem diminuindo nos últimos anos, o que exige maior atenção das emissoras locais para preservar essa confiança.

Durante um webinar promovido pela NAB, Sean McLaughlin, vice-presidente de notícias da Graham Media, afirmou que os consumidores estão cada vez mais enxergando o noticiário de forma homogênea, sem distinção clara entre fontes locais e nacionais. “A forma como as pessoas consomem conteúdo mudou tanto que a separação entre notícias nacionais e locais já não é tão evidente”, disse. McLaughlin também alertou que o acesso a informações de baixa qualidade contribui para esse cenário.

Um estudo encomendado pela RTDNA revelou que 47% dos entrevistados confiam na precisão das notícias locais, mas apenas 39% acreditam que a cobertura política é equilibrada. Além disso, a pesquisa registrou um aumento nas dúvidas dos ouvintes: 69% afirmaram ter dúvidas ocasionais sobre o que ouvem no rádio, número que era de 49% em 2022. As emissoras de TV locais também observaram um aumento na desconfiança, passando de 43% em 2022 para 67% em 2023. Redes sociais e plataformas como o YouTube apresentaram índices de confiança ainda menores, conforme indica o estudo.

Apesar disso, Ellen Crooke, vice-presidente sênior de notícias da Tegna, acredita que as redações estão comprometidas em oferecer uma cobertura justa e equilibrada. No entanto, ela reconhece a necessidade de ajustes para reconquistar a confiança do público. “Precisamos mudar algumas práticas para mostrar que estamos realmente empenhados em ser confiáveis”, afirmou Crooke.

A pesquisa da RTDNA também apontou caminhos para que as emissoras locais melhorem sua relação com o público. Entre as estratégias sugeridas estão o foco em questões que realmente preocupam as comunidades, deixando de lado a agenda política. A verificação de fatos em tempo real e a transparência sobre as fontes consultadas também são ações recomendadas para fortalecer a credibilidade.

Mesmo diante dos desafios, McLaughlin vê o momento atual como uma oportunidade para o jornalismo local. “Estamos em uma posição única. Em muitas comunidades, somos os últimos veículos de notícias ainda atuando com força, enquanto os jornais continuam encolhendo”, ressaltou. A pesquisa da RTDNA também mostrou que os consumidores locais valorizam o jornalismo de qualidade, embora façam críticas à forma como as notícias são entregues. Para McLaughlin, esse cenário é um sinal de que há espaço para reconectar as emissoras locais com seu público e reforçar sua relevância.

Embora o estudo tenha como foco a situação norte-americana, onde em 2024 o país enfrenta uma eleição majoritária com vários contornos de acirramento, é possível fazer um paralelo com outras democracias, aproveitando esses diagnósticos em veículos de comunicação de outros países. O Brasil, por exemplo, vivencia neste segundo semestre as eleições municipais, nas quais o rádio costuma ser um pilar importante na cobertura do pleito. E o cenário de acirramento também está presente por aqui.

Em resumo, o sugerido no webinar seria…

Dicas para que emissoras sejam mais confiáveis:

– Conectar-se com as preocupações da comunidade: Focar em cobrir os assuntos que realmente importam para o público, em vez de seguir a agenda de políticos.
– Fazer perguntas difíceis: Os ouvintes e telespectadores esperam que os jornalistas desafiem as fontes com perguntas rigorosas.
– Verificação de fatos: Assumir um papel ativo na checagem de informações em tempo real, especialmente em transmissões ao vivo.
– Transparência nas fontes: Mostrar claramente as fontes consultadas, reforçando a credibilidade e permitindo que o público veja de onde vêm as informações.
– Declaração de missão: Criar e divulgar uma declaração clara de como será abordada a cobertura política, e disponibilizá-la ao público.
– Diversidade de fontes: Garantir que as fontes utilizadas sejam diversas e confiáveis, promovendo maior equilíbrio nas reportagens.

Principais descobertas do estudo da RTDNA:

– A confiança nas notícias locais é boa, mas não excelente: 47% dos entrevistados confiam na precisão das notícias locais.
– Cobertura política local é vista como desequilibrada: Apenas 39% acreditam que a cobertura política das emissoras locais é justa e representa todos os lados.
– Aumento nas dúvidas do público: 69% dos entrevistados disseram ter dúvidas ocasionais sobre o que ouvem no rádio, comparado a 49% em 2022.
– Crescimento da desconfiança na TV local: A porcentagem de pessoas que expressam dúvidas sobre a cobertura da TV local saltou de 43% em 2022 para 67% em 2023.
– Desconfiança ainda maior nas redes sociais: Plataformas como YouTube e redes sociais têm níveis de confiança ainda mais baixos em comparação às emissoras locais.

 

 

Fonte: Tudo Rádio